1 de fevereiro de 2010

Há cachopas que não sabem estar caladinhas

São as chamadas boca de trapos, desbocadas ou até inconvenientes.
Gente má que prefere envergonhar uma amiga a ficar de boquinha fechada.
Mas vá, eu faço-lhe a vontade, dona Marta.

Isto é o que ela queria que eu escrevesse:

No sábado passado fui salva por um cavaleiro de capa e espada, montado no seu cavalo branco que pegou em mim e me levou para longe do perigo do dragão flamejante e partilhámos um beijo romântico sob um pôr do sol púrpura numa qualquer praia do mundo das fadas.

Isto foi o que realmente aconteceu:

Depois de ter sido uma fofa querida que foi ajudar a desbocada a levar sei lá quantos fatos para a peça dos putos fui convidada para jantar para agradecer a gentileza (sim, eu sou assim muito boazinha mas exijo subtilmente comida como pagamento).
Ela queria fazer lasanha mas não tinha queijo nem natas e por isso fomos ao supermercado. Claro que nunca se vai ao supermercado comprar só queijo e natas.. aproveita-se logo para fazer compras para a semana toda...
Como eu sou uma rapariga cheia de sorte adivinhem lá quem é que me viu entre o corredor dos detergentes e das esponjas da loiça? Sim... o fuinha!
Lá veio ele falar comigo (estava muito ofendido pela forma como tinha sido tratado, coitadinho) e eu continuei a andar de corredor em corredor sem lhe responder.
Soube depois que enquanto isto se passava estava a dona Marta ao telefone a fazer queixinhas como se não houvesse amanhã, qual agente em busca do tal cavaleiro de capa e espada que na vida real estas coisas não acontecem por acaso e exigem um elevado nível de manipulação.
Continuava eu a ignorar por completo o traste falante que me seguia de corredor em corredor quando ele começa a dizer que se tivesse de ir falar com os meus pais para me meterem juízo na cabeça que o fazia sem problemas (sim, nós temos 5 anos e ele vai contar tudo à professora..).
A sério.. quem é que diz uma coisa destas? Ou quem é que acha que é este tipo de "ameças" que vão fazer alguma diferença depois de tudo o que se passou?
Bom, viro-me para ele e começo a barafustar, que não tem nada que estar a meter a minha família naquelas porcarias e blá blá blá e começa ele a barafustar que eu não o posso tratar assim, que ele não merecia, já a agarrar-me no braço quando eu tentava sair dali. Enfim, coisa bonita de se ver no corredor das batatas fritas.
Estava eu no meio deste drama de telenovela ranhosa da TVI quando o cuidadoso trabalho da Marta transforma a telenovela ranhosa em filme de segunda categoria que passa ao fim da tarde no canal dois.
Quando eu pensava que não podia ter ainda mais vontade de me enfiar num buraquinho e desaparecer eis que me viram de repente e me espetam um beijo.
Sim. Leram bem. E não, não foi o fuinha. E não, não foi um beijinho na cara.
Foi mesmo um beijo na boca, seguido de um "olá amor" seguido de um "olha lá, mas eu já não te disse para a deixares em paz" seguido de um " olha Juliana, eu sei que me disseste para ter calma, mas a calma está-se a acabar" seguido de um " se voltas a importuná-la outra vez vamos ter chatices.
E eu ali, pendurada no braço do meu "salvador" alugado a pensar onde é que estavam as câmaras porque aquilo só podia ser para os apanhados.
A única coisa que me impediu de meter um bocadinho de veneno dos ratos na comida da Marta durante o jantar depois dela me contar o que tinha feito foi mesmo a eficácia da marosca.
É que o fuínha virou-se para mim e disse com um ar indignado "já vi que não mereces o meu tempo, está lá descansada que me mim não vais ouvir mais nada." e foi-se embora.
"Ohhhh... mas isso até é um final feliz" - dizem agora vocês.
Não minha gente. Isto não foi um final feliz... foi um meio constrangedor seguido de um momento extremamente embaraçoso.
A sério, como é que uma pessoa reage a isto? Qual é a etiqueta?
Eu digo-vos qual a etiqueta: olhos no chão, boca calada e preces silenciosas para que aparecesse qualquer desculpa para sair dali o mais rapidamente possível.
Mas como é óbvio estes momentos são para prolongar e por isso a Marta tratou logo de perguntar ao Rodrigo se não queria vir jantar connosco (sim, ela paga *todos* os serviços que lhe são prestados por amigos com comida).
E assim se passou um serão em que eu só sabia pedir desculpa, a Marta só gozava com a minha cara e o Rodrigo lá tentava ser porreirinho e dizia que até tinha sido divertido, que tinha valido a pena ver a cara do fuinha e que eu não tinha de estar assim tão constrangida com a situação.
Fim.
O quê? Falta a parte do cavalo branco e da praia?
Bem... no final do jantar ele ofereceu-me boleia e o carro era branco e no caminho falámos de peixes. Serve?

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Satisfeita, sua boca de trapo?




3 comentários:

Taralhoca disse...

Esse Rodrigo é demasiado voluntarioso. Cheira-me a participação interessada :)

paula disse...

tal e qual!! vai se a ver e a marta esqueceu-se de te contar que o Rodrigo anda a puxar a brasa à sardinha dele :p

ameixa seca disse...

Um conto de fadas muito moderno. Quer-me parecer que para o Rodrigo chegar tão depressa e ser tão simpático... também te anda a perseguir he he