10 de janeiro de 2010

Lamurias de menina

Entrou pela porta com um ar desolado. Numa mão trazia a almofada, na outra o edredon e nos lábios meia dúzia de queixumes.
O vento estava a fazer muito barulho, tinha acordado assustada, não conseguia dormir.
Aninhou-se junto a mim no sofá.
Depois pediu mais uma almofada.
Trouxe-lhe também mais um edredon e um saco cama porque estava um frio cortante que não se arredava só com a força da botija de água quente.
Enterrou a cabeça na almofada, esticou os pezinhos até tocar em mim e finalmente sossegou.
O vento continuou a uivar e a arremessar contra as janelas, os vizinhos gritaram e bateram portas mas ela continuou sossegadinha.
E eu babei, feliz por a minha companhia lhe chegar para apaziguar as insónias e os medos.
Agora está completamente soterrada em cobertores, só lhe vejo uma mãozinha de fora e ouço a respiração ritmada que me indica que algures, no meio daquele monte de roupa está a mulher que eu amo.

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